quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Resposta ao artigo de Maria Helena Guimarães de Castro (Secretária de Educação) publicado na Folha de São Paulo de 15/10/2008 na página A3

Professor é 10, governo é Zero



João Zafalão, é diretor APEOESP
e da Oposição Alternativa (CONLUTAS)

Nada causa mais desgosto a um professor do que acordar no seu dia e se deparar com um artigo da Secretária de Educação mais uma vez responsabilizando os professores pela derrocada da qualidade da educação no estado de São Paulo.

Vamos aos fatos:

Em 1997, o governo do estado fez uma reforma do ensino, onde reduziu as aulas no diurno de 6 para 5 e no noturno de 5 para 4, reduzindo o tempo do aluno em sala de aula de 1200 aulas para 1000 aulas no diurno e de 1000 aulas para 800 aulas no noturno, além de demitir cerca de 60 mil professores e impor a “promoção automática” e não a progressão continuada. Se fosse pouco submeteu os profissionais em educação a um arrocho salarial espetacular, obrigando a maioria dos professores a procurar outra rede para tentar manter seu padrão de vida, que é notório tem sido rebaixado. Para piorar isso tudo, mantém metade da rede (cerca de 110 mil professores) em contratos precários, por mais de 20 anos. Vários se aposentaram, sempre trabalhando como ACT’s (Admitidos em Caráter Temporários). Temporários por 20 ou 30 anos?

Nos idos de 1997, os professores entraram em greve e disseram que esse plano iria afundar a educação pública, pois não atacava os problemas verdadeiros da educação, que passa pela valorização dos profissionais da área, no máximo 25 aluno por sala e uma jornada que permita ao professor ter qualidade, com tempo para preparação de aulas e correção de atividades. Como todos sabem, o governo impôs esse conjunto de medidas e passados 11 anos, o resultado é essa tragédia a que nossos alunos e professores foram submetidos, sendo que o estado de São Paulo, caiu em todos os índices educacionais.

Qualquer pessoa séria deveria pelo menos ouvir as opiniões dos profissionais em educação, pois infelizmente, 11 anos depois, se demonstra que os grevistas de 1997 tinham razão.

Porém, o atual governo repete a mesma fórmula de antes, que é tentar responsabilizar os professores, inventando critérios que supostamente valorizará o bom profissional em detrimento do mal profissional.

Quero reafirmar que a solução para a melhora da educação não passa por premiação, mas sim por proporcionar efetivas condições de se desenvolver a prática educacional nas escolas. Os professores, tiveram que fazer em 2008 mais 21 dias de greve, para poder se reunir com secretaria de educação, que se recusava a fazê-lo antes da greve. Os profissionais em educação, reunidos em assembléias massivas, com mais de 80 mil professores de todo o estado, apresentaram medidas simples e efetivas para a melhora da escola pública, que são:

1- redução do número de alunos por sala, a no máximo 25 alunos e não os 55 ou 60 que temos hoje;
2- o fim da “promoção automática”;
3- a incorporação das gratificações aos salários dos professores e reposição das perdas. (salário de 2.072,00 por 20h) e não os atuais R$ 841,00;
4- implementação imediata de 1/3 da jornada em hora –atividade (aprovada em lei e que conta com o governo do estado procurando subterfúgios para não implementá-la) .

A solução dos problemas educacionais não são simples, mas com certeza o governo do estado, mais uma vez está no caminho errado, pois Bonificação por Resultado, prova para contratação de ACT´s (desrespeitando o tempo de serviço desses profissionais), a não implementação do 1/3 de hora-atividade só acarretarão maior insatisfação dos profissionais em educação e com toda certeza, não trarão as tão necessárias melhoras que a escola pública precisa. Trazer para a educação as regras e a lógica do mercado, como apostilas de empresas educacionais, bonificação por resultados trará para a escola uma situação que a crise econômica global já nos mostra o resultado. Se a economia de mercado precisa da intervenção estatal para sobreviver, por que as políticas de mercado poderão solucionar a crise educacional? A política educacional que resolve é investimento na educação pública. Nesse sentido não tenho como não me indignar diante do artigo de Maria Helena Guimarães de Castro, publicado na FSP e também me indignar com o fato do governo federal ter “doado” R$ 106 bilhões em um mês, para os banqueiros, que tanto lucram, em detrimento das necessidades sociais, como a educação. Não podemos esperar o dinheiro do petróleo (pré-sal), inclusive porque não falta dinheiro no estado, mas sim política social, pois tanto Lula como Serra, preferem os banqueiros, as construtoras e não o povo (como eles tanto gostam de afirmar).

Não à BNCC!